Este ano chego a essa marca. Parece pouco, mas muita coisa acontece em 15 anos. E (eu pelo menos sou assim) volta e meia fazemos um balanço de tudo que acontece em nossa vida. Vou aproveitar esse aniversário de carreira pra isso. Ainda faltam alguns meses para alcançar essa marca, mas vou aproveitar a inspiração e a vontade que estou de escrever isso hoje ;).
No final de 1999 eu era um sonhador que conseguiu realizar um desejo de infância, que era falar no rádio. Microfone aberto para o mundo, e mesmo estando numa rádio de pouquíssimo alcance e sem preparo nenhum, eu sentia que aquilo que eu fazia poderia de alguma forma mudar a vida das pessoas. Nisso eu ainda acredito: nesse poder que o rádio tem de mudar o dia de qualquer pessoa, através de uma música, uma palavra de incentivo ou de uma informação importante que quem está atrás do microfone passa adiante. Graças a Deus isso já aconteceu tantas vezes comigo que ainda me permito acreditar.
Voltando à aquela época tenho que mais uma vez demonstrar gratidão por quem acreditou em mim, por quem me deu oportunidade de estar diante do microfone. Isso é muito importante: nunca deixe de ser grato a quem lhe estende a mão. Eu tive alguém que foi o primeiro a fazer isso, mesmo sem me conhecer, sem esperar nada em troca, apenas com a intenção de ajudar alguém que começava na carreira em que ele já estava, coisa raríssima nesse meio. Ele hoje em dia é um dos meus melhores amigos. Muito obrigado Brejinho. O que você fez muito pouca gente faz nesse meio. Você merece muito mais que um parágrafo de agradecimento. Além dele tive outros amigos que me ajudaram a crescer no rádio e sou grato a cada um, só não vou citar nenhum mais para não cometer a injustiça de esquecer alguém, e tenho certeza que cada um sabe que é dele que estou falando, sempre demonstrei claramente minha gratidão.
Isso nos remete a uma realidade: nesse meio existe mais vaidade do que humildade, mais ego do que competência. E isso é uma ilusão absurda, afinal, quem trabalha no rádio é um profissional como qualquer outro, que tem suas contas pra pagar e alguém a quem responder. Ilusão achar que o simples fato de ter um microfone aberto diante de si, o faz ser melhor que alguém. Uns ganham mais, outros menos, mas todos somos empregados apenas. E essa é uma carreira de altos e baixos, meus amigos. Hoje quem você despreza ou sacaneia pode se tornar seu chefe amanhã. Não existe ninguém “dono” de determinado horário ou programa, isso pertence à emissora e a seu dono. Falo aqui dessas coisas não por mágoa ou decepção, mas por experiência de quem convive nesse meio há quinze anos vendo de perto isso acontecer rotineiramente. E ainda bem que ainda existem pessoas que vão contra essas coisas, que são do bem e que fazem o rádio porque são competentes e preparados para isso. Essas pessoas fazem valer a pena continuar acreditando. Ainda me resta um pouco de esperança.
A verdade é que o rádio tem passado por um momento difícil, com um grande número de rádios perdendo público, e o interesse pelo veículo diminuindo. O surgimento de novas mídias e de novas maneiras de acesso à música e a informação e principalmente as programações repetitivas e a pouca criatividade artística são algumas das causas dessa mudança. A verdade é que só vai sobreviver quem tiver a humildade de reconhecer que esse formato vigente precisa ser melhorado. Não tenho a fórmula mágica para isso, mas creio que o caminho passe por uma competência maior de quem está por trás dos projetos artísticos das emissoras e de um investimento maior em talento humano e principalmente seriedade por parte de quem detém as concessões. Chega de comodismo. Rádio depende de talento, inspiração, transpiração e criatividade para dar certo.
Voltando aos 15 anos desse cidadão aqui, fica uma lição: nunca se considere pronto, nem insubstituível. Ouça as críticas com atenção, tentando tirar proveito delas sempre que possível e não dê valor aos elogios, eles na sua maioria não são sinceros. E se permita errar, arriscar, isso te fará crescer. E tem uma coisa muito importante: respeite a experiência de quem está a mais tempo que você no rádio, tente aprender com eles. Eu tive e tenho o privilégio de conviver e aprender com grandes profissionais. Sempre gostei de ouví-los e de observar o que fazem. Um bom locutor é primeiro um ótimo ouvinte. E isso serve para as demais funções que você venha a exercer também. Humildade não ocupa espaço. No contínuo processo de formação de um bom profissional é essencial que ele tenha bom caráter, ética e que não acredite ser superior aos outros. Esteja disposto a conhecer outras funções além da para qual você foi contratado. Eu mesmo já fui: locutor (estilo jovem, popular e adulto), produtor de áudio, operador, repórter, comentarista, apresentador de eventos, flashista (locutor de externas), coordenador, programador, merchandiser… entre outras coisas nesses anos todos, e em cada função aprendi lições diferentes, muitas delas que não aprendi nos quatro anos do curso de bacharelado em Rádio e TV. A teoria te dá a orientação, mas a prática é fundamental na construção de um bom profissional. Eu ainda tenho muito mais a aprender.
Eu sinceramente não sei até quando seguirei trabalhando no rádio, eu amo o que faço, mas dependo de um crescimento do meio para continuar. Hoje a grande maioria dos profissionais têm que ter uma outra fonte de renda para complementar os baixos salários oferecidos pelas emissoras, salvo raras exceções. Muitas pessoas tem uma visão distorcida a respeito disso, achando que todos que estão no rádio ganham bem e que o trabalho é apenas divertido e fácil. Existem sim muitos momentos de diversão, mas só podemos aproveitá-los se formos profissionais o suficiente para que eles não atrapalhem a boa execução do nosso trabalho. E não é tão fácil quanto imaginam, as oportunidades são poucas e o caminho é longo. Principalmente para quem está começando. Nunca pegue atalhos, vivencie cada etapa saboreando as lições e se fortalecendo com as dificuldade que você encontrar na sua caminhada.
Quanto a mim, ainda sou um pouco otimista, mas bem menos do que era há quinze anos. A experiência me ensinou a ser mais cauteloso. Mesmo assim, sou brasileiro, não desisto nunca. Obrigado pela audiência, até a próxima.